Namastê!
A palavra Karma tem origem no sânscrito e significa “ação”. Toda ação tem sua reação e muitas vezes a Lei do Karma é comparada a lei de Newton que rege o plano físico. Para entender a Lei do Karma é necessário estudar alguns tópicos relacionados à classificação da existência ensinada na filosofia Sâmkhya, no Ayurvêda e no Yoga.
Assim como os elementos naturais “grosseiros”: a terra, a água, o fogo, o ar e o éter, existem em toda a Natureza e em todos os indivíduos originalmente em “perfeito equilíbrio”, qualquer tipo de desordem, falta ou excesso que cause desequilíbrio, forçará esses elementos a se reorganizarem e o que percebemos como catástrofes naturais ou como doenças são sinais que anunciam a necessidade de retornar ao equilíbrio ou reorganizar esses elementos através da harmonia ou simplesmente permitir que isso aconteça. No indivíduo, esses elementos estão relacionados ao sistema endócrino, aos órgãos e aos sistemas: respiratório, circulatório, nervoso, ósseo, digestório e de excreção e são percebidos através dos sentidos. Na natureza é percebido principalmente pelos fatores climáticos.
No Ayurvêda e no Yoga esses elementos também são chamados de Doshas e regem a saúde física e psicológica. A combinação de elementos formam três tipos de perfis que nós nos identificamos com algum deles, seja com suas virtudes e forças e também com os pontos fracos e deficiências, quando acontece o desequilíbrio através de qualquer carência ou excesso, vêm a doença.
Na filosofia indiana Sâmkhya e no Yoga, os Gunas são as qualidades da matéria que “dominam” nossos temperamentos, assim como a identidade com os Doshas no Ayurvêda:
1. Hora estamos em Tamas ou inércia quando há o desinteresse e a indolência e a preguiça predominam junto com o declínio e a obscuridade.
2. Hora estamos em Rajas quando arde o fogo da ação e os excessos são cometidos, hora acertando e hora errando. Rajas é o movimento contínuo.
3. O Sattva Guna é o equilíbrio entre a ação e a não-ação que sugere a harmonia e o progresso em tudo que é saudável e bom, sendo o estado que o yogi busca manter em si para o autodesenvolvimento.
O livro Yoga Sutra ou “Versos sobre Yoga” do mestre Patañjali ensina a psicologia aplicada no autodesenvolvimento, onde os samskâras ou as impressões mentais de cada indivíduo geram suas próprias tendências que resultam nas ações - que inevitavelmente remetem às impressões de origem, formando um círculo de repetições. Esse círculo é muito difícil de sair, de superar as próprias limitações e restrições, enquanto, naturalmente se alimentam os pensamentos. No Yoga, a meditação é uma forma de silenciar a mente, de conquistar através da concentração e disciplinar, alcançando o siddhi ou poder sobre os próprios pensamentos, gerar novas e saudáveis tendências e ações. É o Raja Yoga que ensina como meditar corretamente.
A prática do Mantra Yoga utiliza os mesmos meios de concentração e meditação ensinados no Yoga Sutra. O Mantra Yoga se pratica através das recitações que despertam virtudes sobre as impressões mentais, queimando as más impressões e tendências, fortalecendo o indivíduo em Sattva Guna ou equilíbrio, gerando maior objetividade, melhorando a memória e despertando as qualidades latentes, os dons naturais de cada um.
As Leis do Karma funcionam sobre cada indivíduo de uma forma tão exata quanto as intenções de seus pensamentos e ações. Essa Lei existe tanto dentro de si mesmo quanto na Natureza e sugere a integridade inseparável de cada indivíduo com o mundo e o universo. O reservatório ou depósito de ações designa a carga kármica individual e é chamado de Karmashayâh. Muitos descrevem essa Lei como um aspecto metafísico estudado na filosofia oriental, porém no Yoga é considerada uma “filosofia natural” e o Karma Yoga é o meio libertador na rotina do dia a dia. Para o Jñana Yoga que desenvolve o intelecto e para o Karma Yoga que desenvolve através da ação, todo pensamento influencia e é influenciado continuadamente nesse mundo. A sintonia que vibramos é construída diariamente e toda ação remete à sua origem. Todo pensamento alimentado diariamente, inevitavelmente resultará em ação, sejam bons ou maus e visíveis são os seus frutos.
A força natural dos Doshas, Gunas e Samskâras movem o indivíduo em seu “destino incompreensível”, hora aproximando ou afastando de sua própria verdade ou Dharma, alterando a vida de acordo com os desejos que brotam nos sentidos e nos pensamentos, gerando bons e maus Karmas. A ira, a atração, a ganância, o orgulho, o ciúme, o egoísmo, a injustiça e a crueldade, são as principais debilidades que impedem uma espiritualidade saudável e qualquer progresso. Assim, Krishna explica no famoso livro Bhagavad Gita capítulo 1, verso 67: “O homem sem domínio sobre sua mente e seus sentidos é como um navio levado à mercê das ondas”. O autoconhecimento proporcionado pelo Yoga busca o equilíbrio e a harmonia, assim, os dois primeiros ensinamentos do Yoga falam sobre a conduta: a não violência, o cultivo da verdade, o discernimento e o desapego, a prática diária e o contentamento, como os primeiros passos no caminho de autorrealização.
"O ser humano não necessita buscar qualquer força externa para auxiliá-lo em suas tentativas na realização de seus objetivos, pois contêm em si mesmo todos os potenciais, poderes latentes que jazem intocados ou parcialmente utilizados. Ele não é capaz de alcançar as grandes realizações porque permite que sua força e suas faculdades se dispersem. Se as regular, porém, e aplicar seus poderes de forma inteligente os resultados são rápidos e reais". Concentração e Meditação (1991, p.44) Swami Sivananda.
Segundo Patañjali no livro Yoga Sutra, o reservatório de Karma tem suas raízes nos kleshas ou sofrimentos e produz toda a espécie de experiências na vida visível e na invisível (no presente e no futuro). Os sofrimentos são: a ignorância, o egocentrismo, a paixão, a rejeição e o apego à existência. O sofrimento ou angustia é o que gera todo tipo de obstáculo e fracasso.
"A pacificação da consciência é obtida mediante o cultivo da amizade, compaixão, alegria e indiferença perante aos que são alegres ou tristes, bons e maus" Yoga Sutra I,33.
"Para os yogis os Karmas não são bons nem maus, para os outros são de três tipos: bons, maus, ou meio bons e meio maus" Yoga Sutra, IV,7.
O termo sânscrito “maya” é interpretado pela maioria dos grandes autores indianos como ilusão que surge dos desejos inconscientes, que também são os desejos de satisfação contínua das carências que atrelam o indivíduo ao mundo e suas consequências, surge como miragem ou véus que cobrem a realidade. Da individualidade surge o ego como referência de si e o egoísmo que identifica o indivíduo ao sentido de posse. O discernimento entre o mundo subjetivo e objetivo é o que torna capaz o desapego no sentido da não identificação com os fatores externos. Assim, a mente se torna imperturbável e é possível desenvolver grande força física e mental pela continuidade da prática do Yoga. Essa energia desenvolvida é chamada de Ojas quando a mente é alimentada pelo silêncio e a não impulsividade. O termo tapasya significa disciplina e está associada a Svâdhyâya e Ishvarapranidhâna ou auto estudo e auto entrega. Do acúmulo de Ojas surge a clareza mental e quando os raios de energia mental não estão dispersos vêm um enorme poder de concentração e sucesso na prática da meditação.
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